O aumento (Dino Buzzati)

Giovanni Battistela é um funcionário aplicado, que descobre indignado que um colega muito menos experiente ganha muito mais. Tímido por natureza, sua indignação faz com que ele entre na sala de seu chefe, disposto a falar poucas e boas. Uma vez dentro da temida sala, Battistela é recebido por um chefe compreensivo, compassivo e tolerante, o que faz com que suas defesas baixem.

Seu chefe entende – é claro – sua situação. Afinal um profissional tão bom, tão eficiente, merece mais do que o que é dado ao Bossi. O aumento pretendido é oferecido quase imediatamente. E ao mesmo tempo tirado de Battistela, após um fantástico exercício de retórica de seu chefe. E o ponto chave de O aumento é exatamente este exercício de retórica.

O poder da palavra na manipulação de uma disposição não tão firme é provavelmente o motivo pelo qual este conto foi parar na lista de 100 Contos Essenciais da revista Bravo!, que tomei como projeto de leitura já no ano passado. Como um bom discurso pode mudar uma opinião tão completamente que o ouvinte nem ao mesmo sabe o que o atingiu. O conto é bastante curto, mais uma anedota que uma história completa, mas Dino Buzzati tira o máximo das parcas linhas. A conversa entre patrão e subordinado, publicada pela primeira vez em 1958 poderia fazer parte do roteiro de qualquer filme hollywoodiano sobre corporações.

Digo sobre cinema, pois pelo menos no cenário corporativo brasileiro a cena toda parece meio forçada. O conto, por outro lado, é um excelente início para uma discussão filosófica. Seja pelo contexto de dominação e manipulação pelo discurso, seja pela dificuldade de Battistela em refutar uma argumentação vazia e, no que mais interessa para ele, sem sentido; O aumento nos faz pensar em quanta coisa a gente deixa passar, e assume como verdadeira apenas por ter vindo da boca de um superior hierárquico.

Sobre Clarisse

Uma menina com histórias pra contar...
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