Catherine Morland é uma garota de 17 anos, não particularmente bonita, ou inteligente, ou rica. Ela vive na propriedade de Fullerton, na companhia de seus irmãos mais novos, seus pais, a família Allen e seus romances. Certos de que a filha crescera e chegara à idade de se casar e cientes de que Wiltshire não era exatamente uma meca das meninas casadoiras, aceitam com alegria o convite do Sr. e da Sra. Allen que sua filha os acompanhe em sua viagem a Bath, balneário onde a aristocracia inglesa passa seus verões.
E assim Catherine, garota desacostumada a sarcasmos, exageros e ironias tão comuns no meio aristocrático, cai no meio da nata da sociedade, suas festas, encontros sociais e falsidades. Lá conhece a família Thorpe e a família Tilney, praticamente opostos em caráter. Lá também conhece Udolpho, uma das obras da Sra. Radcliffe, rainha do romance gótico. Com a mente aberta a fantasias e curiosamente obtusa ao julgar o caráter das pessoas, Catherine é uma heroína atípica, até mesmo para Jane Austen.
A abadia de Northanger só foi publicado após a sua morte, por seu zeloso irmão. Nele, a ironia fina característica da autora está mais crua, mais direta, e os personagens um tico mais caricatos. O formato do romance é uma paródia dos romances góticos, gênero preferido por sua heroína. O narrador é a própria autora, e fala às vezes da atividade narrativa, como a inclusão de romances dentro de um romance. É também um estilo mais leve e menos romântico, se comparado aos clássicos “Orgulho e Preconceito” e “Razão e Sensibilidade”.
A abadia em si só aparece na segunda metade do livro, e o contraste entre a realidade e a mente inventiva de Catherine é uma diversão à parte. Assim como as conclusões que Catherine tira das conversas com seus conhecidos e seus amigos: Isabella e John Thorpe, Eleanor e Henry Tilney. A crítica à sociedade inglesa está ali, bem como o amor e o casamento. Mas o foco é a heroína e sua percepção literal do mundo. Ao dar à sua heroína esta literalidade de entendimento, e a Henry uma língua ferina e bastante sagacidade, Austen deixa ainda mais patente suas críticas à sociedade. Dos livros que li da autora este é, definitivamente, o mais divertido.
A ironia menos lapidada garante um texto interessantíssimo, de rir às gargalhadas. De leitura rápida, e recheado de indicações de romances da época, Jane Austen nos mostra com um romance curto o quanto pode ser interessante.
A abadia de Northanger
Jane Austen
Título original: Northanger Abbey
Tradução de Rodrigo Breunig
Apresentação de Ivo Barroso
272 Páginas
Coleção L&PM Pocket (volume 978)
Preço sugerido: R$ 17,00
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da L&PM Editores
Jane Austen para rir às gargalhadas? Eu quero!
quase passei vergonha no ônibus… não aconteceu isso com Orgulho e Preconceito
Como eu tenho vontade de ler Jane Austen…
Uma vez vi um filme chamado “O Clube de Leitura de Jane Austen” que me fez ter ainda mais vontade de ler as obras dela. Indico esse filme, que é bem legalzinho, pra quem se interessa por ela.
Gostei da resenha.
Minha curiosidade com a Abadia começou com esse filme, Gustavo. Eu adoro a decoração da casa que o rapaz faz, bem como as indicações como Ursula K Le Guin…
É muuuito legal mesmo.
Nunca participei de clube de leitura, aqui a cultura literária beira o 0.
eu assisti o filme com o pessoal do meu clube de leitura….hehe
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KIka,
ótima resenha! Já dei link no meu Jane.
abraços, raquel
Muito obrigada pelo elogio, e pelo link… estou passeando por seu site, e adorando!
Oi Kika, vi sua resenha através do blog Jane Austen em Portugês e adorei. Sou fã da autora e a descobri e seus livros depois que assisti o filme O&P 2005. Fiquei tão profundamente tocada, que disparei pro PC, para pesquisar tudo sobre o filme, o livro e afins. Desde então não perco nada deste universo Austeniano.
Tenho um blog literário e estou lendo este livro no momento e em breve colocarei a resenha lá.
Espero que fique tão boa quanto a sua.
Sucesso!
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